Alunos da rede se destacam nas escolas de samba e no Carnaval carioca


Alunos da rede se destacam nas escolas de samba e no Carnaval carioca

Tayane Catanhede na Sapucaí


O termo “escola de samba” surgiu porque a primeira agremiação carnavalesca ensaiava ao lado de uma escola Normal, na Rua Estácio de Sá. Além disso, a Deixa Falar, inicialmente bloco, funcionava como um verdadeiro celeiro de "professores do samba", na opinião do sambista Ismael Silva, um de seus fundadores. A julgar pelo que se aprende em contato com os veteranos ao longo da preparação para o desfile, a comparação é bastante pertinente. 

Para os integrantes mirins, entre eles alunos da rede pública estadual de ensino, as escolas de samba são uma oportunidade de unir o útil ao agradável. Na própria Estácio de Sá – nome atual da pioneira Deixa Falar - Tayane Catanhede, de 19 anos, acabou descobrindo uma vocação. Levada pelo pai à quadra, quando tinha 12 anos, a ex-aluna do Colégio Estadual Júlia Kubitschek hoje é diretora de chocalho da bateria da escola.

“Era para eu ir para a ala das passistas, mas, perto do meu aniversário, meu pai comprou um chocalho e disse: ‘você vai para a bateria’. Aí comecei a aprender e acabei me apaixonando. Com 15 anos, no Carnaval de 2009, fui convidada para ser diretora”, conta Tayane, intérprete oficial da escola mirim do Estácio até o ano passado. 

Com o tempo e a convivência com os músicos, a jovem também aprendeu a tocar todos os instrumentos de percussão e violão. De manhã, cumpria o estágio obrigatório na escola de aplicação do Júlia Kubitschek. À noite, depois da escola, era a hora de se dedicar à bateria. A rotina diária de ensaios não a impediu de concluir o Ensino Médio, em 2011. E ainda sobrava fôlego para desfilar pelo Salgueiro, Viradouro e Porto da Pedra. 

“Este ano vou me dedicar apenas à Estácio. Quero curtir o carnaval não só na Sapucaí, mas também sair nos blocos”, adianta Tayane, que já levou muitos colegas de turma a feijoadas e apresentações na quadra da escola.


Desenvolvendo habilidades
É possível desenvolver habilidades importantes na bateria de uma escola de samba. Tayane destaca o ritmo, a resistência, a motricidade e o trabalho em equipe. A ala da adolescente, com 24 ritmistas atualmente, já chegou a ter 36 integrantes. Na Sapucaí, o que conta é o grupo – cada um precisa fazer “o melhor pela escola”, em suas palavras. “E tem a responsabilidade, que não é pouca”, frisa.

O ritmista Diego Batista em ação com a sua caixa

Ritmista da Mocidade Independente de Padre Miguel, Diego Batista Dias, de 22 anos, sabe muito bem disso. Aluno do C.E. Monsenhor de Santa Maria Mochón até 2011, quando concluiu o Ensino Médio, Diego estreou no grupo Especial como responsável pela caixa microfonada - uma função vital para o desfile. Tinha apenas 14 anos. 

“Qualquer erro meu, todos os jurados escutariam. Foi bastante emocionante. Aquele público todo olhando para a gente. Eu tremia todo”, recorda.

À frente da microfonação da bateria, Diego e quatro amigos também menores de idade formavam o fundamento da Mocidade “adulta” no desfile de 2006. Dois deles ficaram com repique base, que faz a paradinha à qual toda a bateria responde. Até aquele Carnaval, esta turma saía apenas na Estrelinha da Mocidade – a versão mirim – onde Diego começou aos nove anos. Por mostrarem talento nos ensaios, acabaram se destacando mais que os ritmistas veteranos.

“Eu ensaiava todos os dias. Quando viram que a gente estava tocando muito, nos passaram essa responsabilidade”, comenta.

Com nove anos de idade, ao ver os amigos indo para a Estrelinha da Mocidade, Diego foi atrás. Chegando lá, percebeu que eles estavam, na verdade, na Mocidade. Começou então a treinar todos os dias – e só sossegou quando aprendeu a tocar caixa. No ano seguinte, passou a participar das apresentações da Estrelinha e, em 2002, quando a escola voltou a desfilar na sexta-feira antes do Carnaval, pisou pela primeira vez a Sapucaí.

“No Carnaval seguinte, mais maduro, com 12 anos, fui convidado para a bateria adulta. Mas como era menor, não pude desfilar. Em 2004, com 14, comecei a fazer shows pela bateria da Mocidade”, detalha, acrescentando que foi preciso a autorização do Juizado de Menores para que pudesse, finalmente, entrar na avenida com os adultos, em 2006.

Um Carnaval depois, a convite do presidente da escola, Paulo Vianna, Diego e dois amigos assumiram a bateria da Estrelinha da Mocidade. O trio fez questão de chamar para o grupo alguns músicos da comunidade Vila Vintém, onde Diego mora. Passaram então a ensaiar com a bateria adulta. Os veteranos começavam a famosa “paradinha” (inventada em 1949 pelo então Mestre André) e os novatos terminavam.

“A mesma paradinha que eles faziam a gente fazia também. Naquele ano, ganhamos tudo quanto foi prêmio, entre eles o S@mba-Net, de melhor bateria mirim, e ficamos em segundo lugar no Pé do Futuro, com disputa ao vivo, na Globo”, diz, orgulhoso. 

Aproveitando o ensejo de um projeto sobre Carnaval, Diego, que já era mestre quando entrou no Mochón, em 2006, levou a bateria mirim para uma apresentação na escola. Todo mundo sambou e foi um sucesso. Tanto que os recreios passaram a ser ao som de pagode. Os instrumentos ficavam guardados na escola e quando as rodas de samba não aconteciam, muita gente sentia falta. “Os diretores davam apoio e assim nos incentivavam cada vez mais”, reconhece.


Unindo o útil ao agradável

A passagem de Diego pela Mocidade não se resume à bateria. Ele também já fez curso de fantasia, em 2008, na Cidade do Samba. A dedicação à escola também não o impediu de trilhar um caminho paralelo, como ator. Além dos shows com os ritmistas, todos os fins de semana, por todo o Brasil, ele ainda encontrou tempo para concluir o curso de interpretação dramática do Senac Rio e atuar em filmes como Cidade de Deus, Ônibus 174 e Cidade dos Homens, entre outros. A ideia é continuar fazendo teatro na sua comunidade e no Mochón, além de cursar uma faculdade na mesma área. 

“As pessoas querem aprender”, reflete Diego, selecionado pelo diretor de Cidade de Deus, Fernando Meirelles, em um teste do projeto PVV, da Vila Vintém, aos oito anos.

Dias antes do desfile, Diego começa a fazer a manutenção dos instrumentos com os demais ritmistas. Neste Carnaval, ele terá um novo desafio: sairá no surdo de terceira, que tem uma batida muito mais complexa e por isso é tocado pelos mais experientes. O mestre estava cansado da caixa. Será uma evolução. 

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